29.8.10

realidade

não é incrível que por mais que tenhamos os olhos abertos ainda não consigamos enxergar? não é incrível que a mais tola realidade possa ser transfigurada bem diante dos nossos olhos e isso possa causar distorções tamanhas em nossa capacidade de percepção, conscientização e absorção dos fatos?
quanto mais me aproximo de tentar definir o que é realidade mais vejo que me afasto de fazê-lo com sucesso... neste exato momento sinto-me no estreito limiar do topo e do fundo do abismo que separa a sanidade da clarividência e a loucura da neurose...
no dicionário, realidade pode ser definida de forma bem simples: “qualidade do que é real; aquilo que existe realmente”. mas as definições práticas não são tão simples assim... esse assunto não é novo aqui dentro de mim e também não é novo aqui no blog! mas sempre é com novas sensações e experiências pessoais que retorno a este ponto e consigo encontrar a inspiração que faltava há meses para dedicar um dia lindo desses de chuva a escrever sobre o que vive intensamente em meu mundo real interno e profundo e compartilhar com vocês.
nesse momento estou em casa, de frente para o lago pensando na possibilidade de me conectar com o porque de tudo isso... estou num estado bem filosófico... vejo, daqui uma realidade bem linda, sólida e estável. estou só na minha sala, meu filho dorme tranqüilo no quarto e olho para o lago. isso é real.
se olho para a janela a minha frente vejo a vida na casa ao lado.
na casa ao lado tem uma pessoa que mora só e que, pode ser que também olhe o lago neste momento e enxergue também, através da paisagem da sua janela, a sua própria realidade. entre a minha casa e a dela, sem muros ou cercas de isolamento, provavelmente existe um espaço onde nossas individuais realidades possam conviver, possam permear-se ou limitar-se onde possa ser alicerçada uma realidade da nossa vizinhança, ou uma realidade da nossa amizade. isso me lembra de uma outra realidade que são as relações...
moro numa comunidade onde dividem-se entre casais e solteiros, além dos espaços comunitários [realidades comunitárias], também outras cinco realidades individuais [os chalés dos moradores].
neste momento, agora, uns minutos mais tarde de quando iniciei a escrever este post, a vida já acontece lá fora e nossas relações já estão a todo o vapor pelo quintal, pelos chalés, e pelos espaços comunitários.
a vida em comunidade em alguns momentos parece nos conduzir ao caos onde convivem diversas e diversas realidades e me dou conta de uma pergunta que se faz fundamental para mim: porque???
porque viemos conviver todos juntos, com esse enfrentamento tão constante e íntimo de realidades? porque nos colocamos nesta situação? será que estamos aqui para abrirmos mão de nossas próprias realidades individuais? será que para construirmos uma realidade coletiva que funda todas as outras? será que para superarmos esta aparente necessidade real da realidade coletiva e preservarmos as individuais?
ou, ainda mais grave: será que estamos aqui por incapacidade de construirmos sozinhos, cada um a sua, realidade individual e como conseqüência natural disso a real integridade do Ser? viver em comunidade é sermos muletas uns dos outros? isso é oferecer apoio?? isso é saudável? é a harmonia da inconstância ou a instalação caótica?
é sanidade ou é loucura????