tem pouco tempo eu estava num ônibus, já tarde da noite e cedo da madrugada e sozinha... nunca faço isso. e estava indo pra um lugar que também nunca vou, pensando em como a vida tem sido boa, em como as coisas têm dado certo e celebrando solitária as minhas conquistas e a bonança no meio do turbilhão. em momentos assim, acredito, fielmente, que viramos luz e que emitimos essa luz pro lado de fora.
um sorriso que vinha da minha alma estampava-se no meu rosto, ali, naquele momento. e eu, olhava o meu reflexo no vidro do ônibus - que virara um espelho com o negro da noite do lado de fora. cada vez que eu olhava o meu sorriso no vidro do ônibus, mais me vinha um sorrir da alma e eu mesma me encantava com o encanto que aquele momento trazia.
eu estava num daqueles bancos altos e apesar da hora avançada eu não me preocupava nem um pouco com o percurso do ônibus e nem com quem subia nele [o que era até uma irresponsabilidade, em se tratando de rio de janeiro!]. até que entrou um homem. não era um homem qualquer, era um homem bonito, daqueles que você nota quando adentra o recinto... e ele logo me viu. e eu sorrindo estava e sorrindo permaneci. ele respondeu com um sorriso lindo. e aí, então, fiquei meio sem jeito e desviei meu olhar e meu sorriso.
ele entrou e sentou uns três bancos a minha frente. daí relaxei de novo. até que ele se virou pra trás, sorrindo gostoso e me encarou. eu me mexi no banco, sentei mais reta e menos relaxada e parei de sorrir, meio encabulada. ele voirou pra frente novamente. e novamente virou pra trás e novamente sorriu e me olhou e virou pra frente. e de novo virou pra trás. e mais uma vez. eu, já estava achando que era alguém conhecido no final do ônibus e me virei pra olhar, mas não tinha ninguém.
eu estava ficando muito sem jeito. eu tava com uma flor no cabelo e me peguei tirando a flor, como quem estivesse parando de celebrar. ele parecia uma pessoa de bem, mas eu sozinha, e tarde da noite começa a me intrigar... virei-me pra janela e resolvi não mais o olhar.
ele levantou do banco e veio na minha direção. meu coração acelerou levemente. eu não o olhava mais. ele passou direto e parou perto da porta traseira. e ficou por um tempo. relaxei de novo. e quando relaxei ele colocou a mão no meu ombro. eu me virei sem pensar. ele disse:
"desculpa te incomodar, não se preocupa, não quero te importunar, mas não posso sair daqui sem te falar que foi maravilhoso entrar nesse ônibus e ver um sorriso tão lindo a essa hora. um rosto tão leve com um sorriso tão lindo como o seu. eu vou descer agora e provavelmente não vou te ver nunca mais, mas o seu sorriso vai comigo e não vou mais deixar ele ir embora."
tive certeza que não celebrava sozinha...
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